.ferrari vs porsche. ("post-scriptum")
- silluismiguel9
- 22 de ago. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de mar.
.'cavalino rampante' ou 'tänzelndes pferd'.

Nota: Ambos os símbolos representados pictoricamente por minha autoria são propriedade intelectual dos respectivos fabricantes Ferrari S.p.A. e Dr. Ing. h.c. F. Porsche AG. Qualquer representação pretende servir de homenagem a qualquer falha ou omissão não foi premeditado nem pretende sr interpretado como má fé.
.introdução.
Ferrari & Porsche. Ambos os construtores praticamente dispensam apresentações no mundo automóvel. Com ambos vem acompanhada uma longa herança rica e estendida entre a inovação tecnológica e o desempenho ao mais alto nível no desporto automóvel.
Não há como negar, ambos são vencedores, detentores de recordes que se começar a enumerá-los a todos terei de dividir o artigo em “n” partes. Os escudos que adornam os respectivos modelos desportivos evocam prestígio e tradição; e creio que para um piloto profissional a oportunidade de representar qualquer um é o derradeiro objectivo, vencer, o derradeiro sonho. Alcançar em simultâneo o campeonato de construtores e de pilotos, é garantir a entrada no panteão de pilotos lendários.
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É só rever a emoção de Michael Schumacher na Ferrari durante a sua época de domínio na Fórmula 1 com a 'Scuderia', ou a emoção de Pascal Wehrlein e do “nosso” António Felix da Costa com a Porsche na Fórmula E.
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Para quem está ao alcance a compra, a concretização da posse e a condução de um modelo significa agarrar um pedaço de tudo; é sentir a emoção e reviver as vitórias, a tradição e o prestígio.
Também não há como negar, ambos são os maiores rivais. De tal forma, esta rivalidade de modo semelhante é transportada para quem os tem. Há quem tenha um Ferrari e se recuse a ter um Porsche e vice-versa. Pessoalmente, admiro aqueles que conseguem apreciar ambos; que sejam donos de um F40 assim como de um 959, se surpreendam com a potência primitiva e selvagem do primeiro - apenas ao alcance do domínio dos mais talentosos ao volante - e se fascinam com a tecnologia e robustez do segundo. Entre ambos os construtores só há partidos quando representados profissionalmente.
Contudo, por mais incrível que pareça senão fosse a ligação militar indirecta entre a cidade de Estugarda, na Alemanha, não teríamos o ‘cavalino’ no escudo da mais famosa escuderia do mundo.
.origem militar.
Segundo relatos de fontes biográficas, o símbolo do “cavalino rampante” surgiu como que por acaso e foi inserido no escudo como forma de homenagem patriótica.
Dino Ferrari, irmão de Enzo, foi destacado durante a primeira grande guerra para a força terrestre do esquadrão aéreo italiano, Squadriglia 91A. Nesta, terá entrado em contacto com o piloto aéreo militar, o às Francesco Baracca, considerado herói nacional para muitos italianos por registar o, então, recorde de ter abatido 34 aviões alemães em combate. Francesco Baracca, assim como o resto da Squadrigilia 91A, adornavam nos seus biplanos o cavalo empinado negro, símbolo alemão da cidade de Estugarda, a meu ver como um aviso sinistro ou de ameaça ao “inimigo” alemão.
.homenagem.
Durante a sua curta carreira a tempo parcial como piloto automóvel, Enzo Ferrari com o mecânico Giulio Ramponi a acompanhar, ganharam o Circuito Del Savio em Ravena, Itália.
Agora entra o acaso, porque talvez por ter vencido a prova Enzo Ferrari travou conhecimento com os condes Baracca, Enrico e Paolina, e foi neste encontro que a condessa sugeriu a Enzo que adornasse nos seus bólides de competição o símbolo do cavalo tal como usado pelo seu filho Francesco. O pedido vindo de figuras nobres tão ilustres e Enzo Ferrari que se considerava um homem do povo, é muito provável que este último tenha assumido como a maior forma de honra alguma vez concedida.
.conclusão.
A verdade creio ser somente esta: o símbolo nunca foi de Francesco Baracca, nem tampouco propriedade dos condes para que a condessa pudesse simplesmente autorizar o seu uso por terceiros. O símbolo foi resgatado a um avião despenhado da força aérea alemã oriundo de Estugarda - cidade de onde a Porsche foi fundada - , redefinido em combate como um aviso contra o “inimigo” e reutilizado novamente pela força aérea italiana na segunda grande guerra.
Será que se Francesco Baracca não tivesse havido o símbolo e colocado no seu biplano teríamos o cavalo na Scuderia Ferrari?
Contudo, permanece ainda hoje a ironia da mais famosa Scuderia adornada confiante e orgulhosamente com seu ‘cavalino’ quando seus bólides partem para “combate” na pista contra a prestigiada construtora de Estugarda.
.Miguel.
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."post-scriptum", 5 de março de 2025.
Quero aproveitar a oportunidade para lançar uma actualização a este post; ocasião que se repetirá mais vezes no futuro, pois são poucos os artigos, especialmente tratando-se de história ou cultura automóvel, que se encontram verdadeiramente "fechados" aquando da descoberta de algo relevante a partilhar.
Apesar de querer passar por imparcial confesso publicamente ser um ávido tiffosi. O meu primeiro contacto com a noção de que os supercarros existiam foi com uma miniatura de um Ferrari Testarossa de 1984, da matchbox, no icónico vermelho da scuderia em criança. E desde aí os sigo ferverosamente, do lançamento dos novos modelos às últimas vitórias consecutivas nas 24 horas de Le Mans - 2023 e 2024. Partilho isto porque sempre achei curioso estas grandes marcas partilharem o símbolo do cavalo nos seus "escudos" e dado todo o desenrolar da história e seus acontecimentos, acredito que para todos os petrolheads este conhecimento vem apenas estreitar a admiração por estes construtores e por tudo o que ambicionam provar. Ou pelo menos este é o meu entendimento.
Segundo a própria Scuderia Ferrari, na aplicação oficial (e para todos os inscritos) num novo segmento acerca de sua história, Enzo Ferrari recebeu a sugestão da condessa como uma honra tremenda. Daqui, pegou no símbolo do cavalino e apenas melhorou-o com alguns ajustes, acrescentou o fundo amarelo - em ode à cidade de Modena - e rematou o conjunto de forma clássica, com uma faixa das cores da bandeira italiana. Assim, o escudo tornou-se identitário à Scuderia Ferrari e assim permanece até hoje.
.opinião.
Sendo tiffosi reconheço, a Ferrari não é perfeita e infelizmente os erros cometidos "correm as bocas do mundo" mais depressa do que os feitos; porém acredito que algo do Sr. Enzo ficou entranhado e permanece naquele vermelho rosso corsa de cada bólide que sai de Maranello: a vontade de vencer e superar contra todas as adversidades. Talvez seja da cor vermelha, mas a história contada por vários conhecedores da marca também concluem a vontade de um indivíduo querer singrar perante os seus pares à sua maneira, e isso é algo com que todos nós reconhecemos porque secretamente queremos o mesmo.
Despeço-me por agora com as palavras de Sebastian Vettel (tetracampeão mundial de pilotos de fórmula 1 e vencedor de 14 grande prémios pela Scuderia):
"Everybody is a Ferrari fan, even if they say they aren't."
Fonte Bibliográfica:
Yates, Brock; Enzo Ferrari, The man and the machine; Ed. Penguin Books